segunda-feira, 26 de abril de 2010

Quando Beltane chegar...


Um olho, um olhar...
passos leves e breves, como uma dança
ela uma sinuosa serpente
ele um lobo sedento

Deusa e Deus...
mãos unidas, bocas juntas
suor na nuca, língua viva
cheiro de desejo
boca sedenta de águas do prazer

Ele a beija, toca seu corpo com sua mão
ela sussura, toca seu coração com sua canção
entre toques e sons
acendem o fogo, despertam sentidos, 
se entregam ao prazer e soltam seus gemidos

o corpo dela se abre e desagüa de desejo 
o corpo dele se enrijece e  tenta segurar a excitação
... 





ATÉ QUE CHEGUE O BELTANE!!! RS

sexta-feira, 16 de abril de 2010

ABRIL




Abril

Composição: Adriana Calcanhoto

Sinto o abraço do tempo apertar 
E redesenhar minhas escolhas
Logo eu que queria mudar tudo 
Me vejo cumprindo ciclos, 
gostar mais de hoje 
E gostar disso 
Me vejo com seus olhos, tempo 
Espero pelas novas folhas 
Imagino jeitos novos para as mesmas coisas 
Logo eu que queria ficar 
Pra ver encorparem os caules 
Lá vou eu, eu queria ficar 
Pra me ver mais tarde,
Sabendo o que sabem os velhos
Pra ver o tempo e seu lento ácido 
dissolver o que é concreto 
E vejo o tempo em seu claroescuro 
Vejo o tempo em seu movimento 
Me marcar a pele fundo, me impelindo, me fazendo 
Logo eu que fazia girar o mundo, 
Logo eu, quem diria, esperar pelos frutos 
Conheço o tempo em seus disfarces, 
em seus círculos de horas
Se arrastando feito meses se o meu amor demora 
E vejo bem tudo recomeçar todas as vezes 
E vejo o tempo apodrecer e brotar 
E seguir sendo sempre ele 
Vejo o tempo todo começar de novo 
E ser e ter tudo pela frente

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Solidão é fundamental


Que me desculpem os desesperados, 
mas solidão é fundamental para viver.

Sem ela não me ouço, não ouso, não me fortaleço.
Sem ela me diluo, me disperso, me espelho nos outros, me esqueço.
Não penso solto, não mato dragões, não acalanto a criança apavorada em mim, 
não aquieto meus pavores, meu medo de ser só.
Sem ela sairei por aí, com olhos inquietos, caçando afeto, aceitando migalhas,
confundindo estar cercada por pessoas, com ter amigos.
Sem ela me manterei aturdida, ocupada, agendada só para driblar o tempo 
e não ter que me fazer companhia.
Sem ela trairei meus desejos, rirei sem achar graça, 
endossarei idéias tolas só para não ter que me recolher e
ouvir meus lamentos, meus sonhos adiados, meus dentes rangendo.
Sem ela, e não por causa dela, trocarei beijos tristes e acordarei vazia em leitos áridos.
Sem ela sairei de casa todos os dias e me afastarei de mim, me desconhecerei, me perderei.
Solidão é o lugar onde encontro a mim mesma, 
de onde observo um jardim secreto e por onde acesso o templo em mim.
Medo? Sim. Até entender que o monstro mora lá fora e o herói mora aqui dentro.
Encarar a solidão é coisa do herói em nós, 
transformá-la em quietude é coisa do sábio que podemos ser.
Num mundo superlotado, onde tudo é efêmero, voraz e veloz 
a solidão pode ser oásis e não deserto.
Num mundo tão estressado, imediatista, insatisfeito 
a solidão pode ser resgate e não desacerto.
Num mundo tão leviano, vulgar, que julga pelas aparências e endeusa espertalhões,
turbinados, bossais, a solidão pode ser proteção e não contágio.
Num mundo obcecado por juventude, sucesso, consumo 
a solidão pode ser liberdade e não fracasso.
Solidão é exercício, visitação.
É pausa, contemplação, observação.
É inspiração, conhecimento.
É pouso e também vôo.
É quando a gente inventa um tempo e um lugar 
para cuidar da alma, da memória, dos sonhos;
quando a gente se retira da multidão e se faz companhia.
Preciso estar em mim para estar com outros.
Ninguém quer ser solitário, solto, desgarrado.
Desde que o homem é homem, ou ainda macaco, buscamos não ficar sozinhos.
Agrupamo-nos, protegemo- nos, evoluímos porque éramos um bando, uma comunidade.
Somos sociáveis, gregários.
Queremos amigos, amores.
Queremos laços, trocas, contato.
Queremos encontros, comunhão, companhia.
Queremos abraços, toques, afeto.
Mas, ainda assim, ouso dizer: é preciso aprender a estar só para se gostar e ser feliz.
O desafio é poder recolher-se para sair expandido.
É fazer luz na alma para conhecer os seus contornos, 
clarear o caminho e esquecer o medo da própria sombra.
Ouse a solidão e fique em ótima companhia.


(Hilda Lucas)